Quando os filhos saem de casa para construir os seus próprios projectos de vida, pode ser uma fase complicada. A chamada fase do síndrome do ninho vazio. Apesar de muitos pais também serem afectados com a partida dos filhos, são as mulheres quem tem mais dificuldade em lidar com esse ritual de passagem. Este é um momento particularmente difícil para as mães que dedicaram toda a sua vida aos filhos, que pode causar um vazio incontornável.
Um sentimento de solidão, vazio e tristeza por vezes devastador
Muitos pais sentem solidão, sentimento de tristeza, vazio, com a saída dos seus filhos de casa. Esse sofrimento, por vezes devastador, pode ganhar proporções desajustadas. Além disso, se não conseguem lidar com a perda, pode ter consequências prejudiciais. Por exemplo, a saudade pode tornar-se em angústia e causar crises de ansiedade, podendo mesmo levar a estados depressivos e sintomas psicossomáticos.
O sentimento de pesar é quase incontornável e inevitável, principalmente em pais que valorizam muito mais os seus papéis de mãe ou pai. Embora racionalmente os pais compreendam que esse é o ciclo normal e natural da vida, emocionalmente a situação é mais difícil de gerir. De repente, numa casa habitualmente cheia de vida, de vozes e sons, o silêncio ecoa num vazio que se instala no âmago do ser.
Lidar com a perda e ajustar a dinâmica familiar à nova realidade
Muito se tem escrito e falado sobre o sindrome do ninho vazio e de como lidar com esse sentimento de perda. Há muitas dicas para se preparar com antecedência para essa fase da vida familiar. Sobretudo, como ajustar a dinâmica familiar à nova realidade; ou como se reinventar como pessoas ou como casal…
Mas, o que fazer quando a partida é repentina e definitiva? O que fazer quando a vida desses filhos é ceifada cedo de mais? Como podem os pais lidar com o vazio do ninho, do coração, da alma…
Não passei apenas pelo síndrome do ninho vazio. Tenho convivido diariamente com esse vazio desde 2006. Conheço-o intimamente! Acima de tudo, tenho feito o melhor que posso para me ajustar à nova realidade.
Os filhos representam o futuro, a continuidade, a descendência, o legado, os sonhos e expectativas… Todavia, quando as nossas idealizações, projectos, desejos, fantasias e esperanças se desmoronam como um castelo de cartas… Quando um infindável rol de expectativas se desvanece ante nós como uma névoa… Como podemos lidar com a ausência definitiva dos nossos filhos e com os impossíveis?
A perda de um filho é inominável, indescritível e insuportável
A perda de um filho é inominável, indescritível e insuportável. Os filhos que perdem os pais são órfãos, aqueles que perdem os conjuges tornam-se viúvos, mas quando os pais perdem os filhos não há uma designação para essa nova condição… tornam-se inadjectiváveis!
Numa sociedade de consumo como a nossa, competitiva e centrada no Ter, há pouco espaço para o Ser e o Sentir. Quem perde um filho sente-se marginalizado e estigmatizado pela sociedade. Algumas pessoas evitam falar com os pais enlutados porque não sabem como lidar com a situação. Outras receiam passar pelo mesmo, e outras estão de tal forma centradas em si mesmas que são incapazes de sentir empatia.
Com a morte de um filho os pais iniciam uma jornada árdua e solitária para preservar e manter viva a sua memória. O medo de que sejam esquecidos, somado ao vazio da ausência e à aniquilação do futuro, provocam uma dor insustentável, indizível, insuperável. Perder um filho é como perder parte da própria vida. Eu senti como se me tivessem amputado uma parte do coração.
A perda de um filho interrompe a lógica cronológica
A perda de um filho interrompe a lógica cronológica com que nos habituámos. Esperamos que os pais morrem primeiro do que os filhos, nunca o contrário. Contudo, a morte de um filho não rompe o vínculo que se criara. Independente de como ou quando os pais aprendam a viver sem esse filho, essa perda é como uma ferida aberta, que não cicatriza. É uma ferida invisível aos olhos, mas visível aos corações mais atentos. No entanto, com o tempo essa ferida irá sangrar menos, mas será sempre sensível e dolorosa…
Por vezes estamos bem, naquele espaço de tranquilidade que aprendemos a construir… Mas, de repente uma palavra, um gesto, uma imagem, desencadeia um turbilhão de emoções… Aprender a viver com esta nova realidade, implicou dar um novo rumo à minha vida. Dei continuidade ao vínculo que criei com o meu filho integrando-o na minha vida como uma parte relevante e significativa da minha história. Além disso, ressignifiquei a minha perda dando um sentido à minha vivência.
Acima de tudo, o que me move é o apoio a outras mulheres que se debatem com a árdua tarefa de lidar com a ausência dos seus filhos, ou outras vivências taumáticas. O que me dá alento é ajudá-las a encontrar um lugar de serenidade e plenitude para as suas vidas.
Como evitar o vazio
O vazio pesa, a ausência pesa, o silêncio pesa, os lugares vazios na mesa pesam… por isso é importante encontrar estratégias de autopreservação para lidar com tudo isso. Não vou negar que ainda me custa muito reconhecer que o meu filho não voltará. À data da sua morte, a minha filha tinha 13 anos. Então percebi que teria de me preparar para essa inevitabilidade. Aos poucos fui fazendo ajustamentos para prevenir o sindrome do ninho vazio. Assim, deixo-vos as minhas sugestões.
- Mudar a forma como encaramos os filhos – eles não são nossos, vêm até nós para os criarmos, educarmos e prepararmos, o melhor possível, para a vida;
- Reforçar os laços com o companheiro – se ainda for o pai dos seus filhos, ele poderá estar a passar pelo mesmo, se não for pode ser uma oportunidade de ouro para voltar a namorar (se não tem um companheiro, busque uma amizade fidedigna);
- Liste tudo o que tem vindo a adiar – Faça uma lista das coisas que tem vindo a adiar e comece a dedicar-se à sua concretização, uma coisa de cada vez;
- Procure actividades de lazer – Envolva-se em actividades que lhe dê prazer. Se tem um companheiro, procure actividades prazerosas que possam fazer em conjunto;
- Dedique-se a uma causa – Dedicar-se a uma causa é algo que nos traz realização pessoal, seja voluntariado, activismo, o que lhe fizer sentido;
- Procure ajuda – Se sente que não consegue ultrapassar essa fase sozinha, procure a ajuda de uma amiga que já tenha vivenciado o mesmo, de um Coach, de um Terapeuta ou de um Psicólogo. Não precisa de atravessar o deserto sozinha.
E, lembre-se, a felicidade vem de dentro de cada uma de nós. Não são os outros que nos fazem felizes, somos nós mesmas que construímos a nossa felicidade!
Maria do Céu Arsénio Balé
Olá Ana !
Li várias vezes como sempre faço com todos os seus artigos. De entre várias coisas são sempre ensinamentos que eu valorizo muito.
Muito agradecida.
Beijinhos e Boa Páscoa !
Ana Paula Vieira
Grata pela confiança. Um grande beijinho