Racionalidade ou Autenticidade

Acredito que a maioria de nós, fala principalmente com a razão, ou seja, falamos sem muita conexão com o que realmente sentimos, e até pensamos que essa é a forma mais adequada de comunicar. Na interacção com os outros, ou até no nosso diálogo interno, optamos pela racionalidade em prejuizo da autenticidade. Achamos que isso é um acto inocente e essencialmente inevitável. Contudo, tenho percebido motivações mais profundas neste hábito aparentemente inócuo.

A forma como comunicamos visa a interacção segura

A maior parte daquilo que dizemos, é um esforço para criar segurança com a pessoa com quem estamos a comunicar. Somos tão intuitivos que, rapidamente conseguimos perceber o que a outra pessoa quer ouvir e, então, alimentamo-a de uma forma ou de outra. Por outras palavras, a maioria das coisas que dizemos tem como objectivo ajudar-nos a interagir em segurança – ou seja, sem corrermos o risco de ofender outras pessoas, sofrer qualquer humilhação significativa ou criar conflitos.

Isso, na verdade, é um mecanismo de autoprotecção, que nos informa que toda a interacção representa uma ameaça ao nosso bem-estar, á nossa identidade, ao nosso ego. Portanto, as principais prioridades são segurança e protecção nos relacionamentos.

Mas, vamos imaginar que haja uma maneira de estarmos em contacto com o nosso fluxo interior, com a nossa alma, que nos permita fazer uma pausa antes de falar, e ouvirmos os impulsos que emanam do rio que flui dentro de nós. Com efeito podemos falar a partir desse rio e, no processo, dissolver a racionalidade, o ego, o nosso ladrão de sonhos.

A alma deseja interagir com o nosso mundo

Para fazermos isso, precisamos entender que a alma deseja interagir continuamente com o nosso mundo. Racionalidade, ego, mente, ladrão de sonhos – nada disso pode existir na presença do Espírito ou da alma. É como se a Luz fosse subitamente acesa e, instantaneamente lançasse as sombras no vazio.

No momento em que nos preparamos para falar, temos poder de escolha – ou falamos a partir da racionalidade, o que na verdade significa assumir um personagem, falar a partir do ego, do ladrão de sonhos, do lugar do medo. Ou fazemos uma pausa, esvaziamos a mente e abrimo-nos. Ou seja, sem racionalizar e sem reagir, esperamos apenas o momento de abertura e permitimos que a alma nos informe o que dizer.

Isto não é tão difícil quanto possamos imaginar, principalmente porque a alma quer guiar-nos em cada palavra e acção. Ao pausar e esperar pelo impulso crescente da alma – que é uma sensação de plenitude repentina na nossa mente e um conhecimento interior de que as palavras certas estão sempre disponíveis – permitimos que algo mais profundo dentro de nós se expresse através de nós. E, como tudo, com a prática torna-se rapidamente um hábito.

Frequentemente, quando falamos apenas com a razão, traímo-nos, porque somos obrigados a falar e a agir a partir da urgência do medo e de uma necessidade desesperada de segurança. Esses sentimentos podem ser inconscientes. Mas pensemos em quantas vezes dissemos sim a algo que gostaríamos de ter dito não, ou dissemos não a algo que gostaríamos de ter abraçado. O ego, esse ladrão faminto e impulsivo, furta-nos o tempo de espera por uma resposta que emergiria de um lugar mais profundo dentro de nós. Esse recurso mais profundo é a nossa alma, que nunca iria trair-nos, ou conduzir-nos a situações em que as nossas necessidades não fossem atendidas.

Todos nós somos abençoados com uma voz interior, que nos ama e apoia.

Todos temos uma voz interior, que nos ama e apoia, quando o permitimos. Esse fluxo de amor dentro de nós é a voz do Sim. E sem que a maioria de nós o saiba, essa é a voz da nossa alma. Inicialmente ela parece-nos a nossa própria voz, encorajando-nos a avançar e a continuar a acreditar. É uma voz positiva, em oposição à voz faminta do ego, do ladrão de sonhos  que nos desencoraja, mesmo quando as coisas estão a correr bem. “Sim”, diz o ladrão faminto, “desta vez tiveste sorte, mas para a próxima as coisas podem correr muito mal.”

A voz do Sim diz: “Presta atenção: Esta situação foi resolvida, tal como todos os desafios são resolvidos – permitindo-te co-criar a tua vida. Tens dentro de ti o potencial para realizar os teus sonhos mais preciosos, ter felicidade e alegria, florescer e te tornes a pessoa que desejas ser.”

A voz do sim oferece-nos amor e apoio incondicionais

A voz do Sim oferece-nos garantias constantes do seu amor, ternura e apoio incondicionais. “Não tenhas medo, estamos contigo”, diz a voz de Sim. “Estás a ir muito bem. Estamos tão orgulhosos de tudo o que te tornaste. Todos os desafios que enfrentas, têm solução. Basta seguires o caminho que colocamos diante de ti e serás levado às respostas que procuras. Estás seguro e nós apoiamos-te com amor.”

Ninguém tem culpa der ter a voz do Não na mente. Todos nós fomos ensinados por pais, avós, professores, mentores, colegas de trabalho e amigos a interpretar todos os eventos das nossas vidas através dos programas do Não. Esse treino, bem intencionado, foi tão completo e profundo que dificilmente conseguimos ver os seus efeitos nas nossas vidas. Nós só nos tornamos conscientes dos seus efeitos nefastos e, por vezes, devastadores quando ficamos saturados dos nossos medos e da nossa raiva, e de todos os resultados negativos que eles criam. Nessa altura, começamos a abrir-nos a outros programas e a outra voz – ao programa e à voz do Sim, que é  a voz  e o caminho do amor.

Quanto mais praticamos e ouvimos a voz do Sim, mais poderosa ela se torna nas nossas vidas.

O momento ideal para praticar a voz do Sim é à noite, quando já estamos deitados na cama, imediatamente antes de adormecer. Nessa altura, a sentinela do Ego relaxa, em grande medida porque se sente segura. Sempre que se sente em segurança, o ladrão de sonhos baixa a guarda e a sua voz cala-se. Então, nesse momento, deixe-se ficar quieto e tranquilo.

Perceba se consegue sentir uma energia crescente dentro do seu plexo solar a fluir para o seu coração. Delicadamente, dê voz a essa sensação e permita-se sentir as palavras de amor e apoio a fluir à sua mente. O rio corre através de nós e para a vida. Flui com amor, poder e criatividade. As suas águas cantam e tilintam em brados de alegria e êxtase. Observe a torrente dessas águas cristalinas e purificadoras a limpar tudo o que quer libertar. Sinta-se preencher com esse amor infinito e incondicional, sacie-se na Fonte.

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