O interesse pelo tema da auto-conscientização remonta à Grécia antiga. Está expresso no famoso aforismo “conhece a ti mesmo”, uma das máximas de Delfos inscrita no pronau (pátio) do Templo de Apolo. No último século, a psicologia ocidental voltou a interessar-se pelo tema da autoconsciência. Este tem sido extensivamente estudado por filósofos e psicólogos.
Neste artigo, irei abordar o que é a autoconsciência, em que medida ela pode ser benéfica numa sessão de terapia, por que é difícil alcançá-la e como é possível cultivá-la.
Definição de auto-conscientização
Enquanto a conscientização é saber o que está a acontecer à nossa volta, a autoconsciência é saber o que estamos a vivenciar. Ou seja, a autoconsciência é uma consciência do self, sendo o eu o que torna a identidade única. Esses aspectos únicos incluem pensamentos, experiências e habilidades.
Os psicólogos Shelley Duval e Robert Wicklund desenvolveram a teoria da autoconsciência em 1972. Segundo eles:
“Quando focamos a nossa atenção em nós mesmos, avaliamos e comparamos o nosso comportamento actual com os nossos padrões e valores internos. Nós tornamo-nos autoconscientes e avaliadores objectivos de nós mesmos”.
Em essência, eles consideram a autoconsciência um importante mecanismo de auto-rgulação. A autoconsciência é a capacidade de saber o que estamos a fazer, quando estamos a fazê-lo e entender por que o estamos a fazer.
O psicólogo Daniel Goleman, no seu best-seller “Inteligência Emocional”, propôs uma definição de autoconsciência: “conhecer os estados internos, preferências, recursos e intuições”.
Essa definição coloca mais ênfase na capacidade de monitorizar o nosso mundo interior. Na observação dos nossos pensamentos e emoções à medida que surgem.
Para que nos serve a autoconsciência?
A autoconsciência é a base para a inteligência emocional, a auto-regulação e a maturidade emocional.
A capacidade de monitorizar as emoções e os pensamentos a cada momento é fundamental para nos compreendermos melhor. Só assim podemos estar em paz com quem somos e gerir proactivamente os nossos pensamentos, emoções e comportamentos.
É importante reconhecer que a autoconsciência não se limita ao que percebemos sobre nós mesmos. Mas também sobre como percebemos e monitoramos o nosso mundo interior.
A autoconsciência vai muito além do acumular de conhecimento sobre nós mesmos. Trata-se, sobretudo, de prestar atenção ao nosso estado interior com mente de principiante e de coração aberto.
À medida que percebemos o que está a acontecer dentro de nós, podemos reconhecê-lo e aceitá-lo. Integrar isso como parte integrante do ser humano. Em vez de nos incomodarmos com isso, desenvolvemos agilidade emocional.
A autoconsciência é importante?
Segundo Daniel Goleman, a autoconsciência é a pedra basilar da inteligência emocional.
Em primeiro lugar, as pessoas autoconscientes tendem a agir conscientemente (em vez de reagir passivamente). Em segundo lugar, tendem a ter boa saúde psicológica e a ter uma visão positiva da vida. Por último, também têm uma maior profundidade de experiência de vida e são mais propensas a ser compassivas.
Um estudo desenvolvido por Sutton (2016) sobre os benefícios da autoconsciência apresentou resultados interessantes. Ele concluiu que aspectos da autoconsciência como a auto-reflexão, introspecção e atenção plena podem levar a benefícios como mais receptividade e conexão. Já aspectos como a ruminação e a desconexão podem causar sobrecargas emocionais.
Por que é difícil ser auto-consciente?
A resposta mais óbvia é que na maioria das vezes simplesmente não nos observamos. Ou seja, não prestamos atenção ao que está a acontecer dentro de nós ou à nossa volta. Outra razão é porque a autoconsciência é uma habilidade e, como qualquer habilidade, precisa de ser aprendida.
Toda a aprendizagem passa por vários estágios primários, sendo um deles a incompetência inconsciente. Devido ao desconforto que essa incompetência nos traz, muitas vezes evitamos aprender coisas novas. Aprender a autoconsciência requer o mesmo desconforto.
Como tal, a maioria das pessoas passa a vida sem desenvolver a autoconsciência.
Somos enganados pelo nosso viés cognitivo
Os psicólogos Matthew Killingsworth e Daniel T. Gilbert descobriram que nós operamos, quase metade do tempo, em “piloto automático”. Ou seja, não temos consciência do que estamos a fazer ou de como nos sentimos, quando a nossa mente vagueia e não esteja no aqui e agora.
Além do desvario mental, o viés cognitivo também afecta a nossa capacidade de compreensão precisa de nós mesmos. Tendemos a acreditar nos juízos e crenças que apoiam a ideia do nosso eu que já construímos.
Daniel Kahneman, autor do best-seller Pensar, Depressa e Devagar, mostra que apesar da nossa confiança no nosso autoconhecimento, geralmente estamos errados.
Como se pode constatar, não somos tão conscientes quanto poderíamos pensar. E, se não somos conscientes, somos inconscientes.
Como desenvolver a autoconsciência?
A autoconsciência é uma habilidade fundamental e essencial para qualquer pessoa interessada no desenvolvimento pessoal autêntico.
A chave para desenvolver a autoconsciência é a mesma de qualquer outra habilidade: é necessário método e orientação corretos combinados com a prática consistente.
Felizmente, há muitas actividades para aumentar a autoconsciência. Existem muitos exercícios destinados a aumentar a nossa sensibilidade em relação ao que está a acontecer dentro de nós e à nossa volta.
Como aprofundar a autoconsciência?
A maioria das tentativas para desenvolver autoconsciência fracassa porque visam apenas o neocórtex (pensamentos, crenças, preconceitos). A nossa mente é extremamente hábil a armazenar informação. Ela regista como reagimos a um determinado evento e cria modelos da nossa vida emocional.
Essas informações acabam por condicionar a nossa mente a responder de uma certa maneira. Ela cria um modelo de resposta à medida que nos deparamos com eventos semelhantes no futuro.
A autoconsciência permite-nos estar conscientes desse condicionamento e dos preconceitos da mente. Esse pode ser o ponto de partida para os libertar.
Conclusão
O objectivo é tornarmo-nos mais conscientes do que impulsiona o nosso comportamento. Assim, precisamos de aumentar a sensibilidade às nossas emoções e instintos e explorar os nossos pensamentos, crenças e preconceitos com mais eficácia.
Em suma, ser autoconsciente é crucial, sobre todos os aspectos. Para estarmos cientes dos pensamentos e emoções que estamos a sentir em cada momento e agirmos em vez de reagirmos.
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