É expectável que qualquer pessoa com uma esperança de vida média sofra múltiplas perdas ao longo da sua vida. Nelas incluem-se familiares e amigos, colegas ou de animais de estimação. Todavia a morte é um assunto tabu na nossa sociedade (Ocidental). Consequentemente, nem as escolas nem as famílias abordam o tema. O resultado desta atitude é que, quando a perda ocorre não sabemos o que fazer e/ou dizer às crianças e adolescentes, deixando-as à deriva, confusas e frequentemente assustadas com o seu luto.
Como explicar a morte às crianças e adolescentes
Se o adulto, perante a morte fica desorientado, as crianças e adolescentes ficam muito mais perdidas. Falta-lhes a informação, a explicação do que aconteceu e de como irão continuar a viver sem o ente querido que perderam. É óbvio que isso irá causar-lhes dor e sofrimento, mas, para que haja uma compreensão da morte e possam iniciar o processo de luto, esse é o primeiro passo a dar. Acima de tudo, a elaboração do luto implica, necessariamente, sentir a dor da perda.
A criança, tal como o adulto, tem idêntica dificuldade em compreender que a morte é irreversível. No entanto, se ela teve um animal de estimação que morreu, pode usar-se esse facto como exemplo para explicar-lhe essa irreversibilidade. Também é útil dizer à criança que é natural sentir tristeza e/ou vontade de chorar, ou desejar que o ente querido volte. Isso vai ao encontro do que ela está a experienciar. Dá-lhe a segurança de que os seus sentimentos e emoções são reconhecidos, que é compreendida.
Se a família acredita na vida depois da morte, ou tem crenças religiosas, filosóficas ou outras, deve explicá-las à criança para que esta possa entendê-las e participar no luto familiar. Estas práticas irão ajudar a criança a sentir o seu pesar pelo ente querido. Depois disso irá sentir-se segura para expressar as suas emoções e pensamentos de forma saudável.
Por mais doloroso e penoso que seja para o adulto, a criança deve ser informada tão cedo quanto possível, da perda. Temos tanto medo de traumatizar a criança que, em geral, optamos por lhe ocultar a verdade. Dizemos que o ente querido foi viajar, ou que agora é uma estrelinha… Isso é precisamente o que não se deve dizer.
O que não dizer à criança
Quando a pessoa morre, por mais penoso que seja para o adulto, há coisas que nunca deve dizer que:
- está a fazer uma viagem – a criança aguarda o regresso do ente querido e, quando se apercebe do logro, culpa o adulto pelo engano e perde a confiança.
- está a dormir – a criança interpreta isso de forma literal e pode suscitar-lhe medo de adormecer e não voltar a acordar.
- foi para o céu – a criança acredita que o céu é um lugar como os outros e, por conseguinte, aguarda o seu regresso.
O luto deve ser vivenciado em família onde podem expressar os seus sentimentos. A tristeza e a dor devem ser partilhadas com a criança e/ou o adolescente e não ocultada. Isto é importante para prevenir que optarem, também elas, por esconder as suas emoções e deixem de fazer perguntas.
O que a criança necessita para fazer o luto
A criança – ou adolescente – necessita de se sentir amada, protegida, bem nutrida e acolhida no seio da família (ou pelos cuidadores), para elaborar o seu luto de forma saudável. Ou seja, o processo de luto da criança torna-se mais fácil se esta se sentir segura para falar das suas angústias e sentimentos.
O adolescente, em particular, precisa de sentir esta segurança e protecção uma vez que, além das suas próprias mudanças, sente-se incompreendido pelos seus pares.
Em suma, as crianças ou adolescentes precisam de se sentir amadas e ser tratadas com honestidade e sinceridade para lidarem com a perda de uma forma saudável. Precisam de sentir que têm liberdade de expressão e alguém que as ouça e compreenda. Acima de tudo, necessitam de um porto de abrigo seguro onde se refugiar, sempre que queiram.
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