Viver após a perda de um filho

Continuar a viver após a perda de um filho

Viver após a perda de um filho

Em geral definimos as nossas vidas pelas grandes metas profissionais: uma promoção, o emprego dos nossos sonhos, uma mudança de carreira; ou por grandes acontecimentos: o casamento, o nascimento de um filho… Todavia, para algumas pessoas, a vida é redesenhada por acontecimentos inesperados. A morte de um filho é  desses marcos. É algo tão devastador que ficamos sem saber como continuar a viver.

As vidas dos pais enlutados têm um marco que demarca claramente o antes e o depois

Com efeito, num instante acontece o inimaginável e tudo é redefinido de forma arbitrária sem que tenham escolha ou voto na matéria. Acima de tudo, o rumo das suas vidas altera-se irremediável e definitivamente num micro momento. Nada voltará a ser como antes. Para os pais enlutados há um marco distinto que separa o tempo e a vida, antes e após a morte do(a) filho(a).  Num ápice tudo se desmorona, ante os seus olhos, como um castelo de cartas. A felicidade, a alegria pelas pequenas conquistas daquele Ser que cuidávamos e protegíamos, desaparece. Os planos mais elementares, as expectativas mais básicas perdem sentido. A partir do momento em que o  filho(a) morre o mundo é virado do avesso.

São muitas as interrogações que surgem

É comum os pais se questionarem: Porquê? Porquê o meu filho/a minha filha? Porquê a mim? Que mal fiz eu para merecer um castigo tão duro? Como continuar a viver após a perda do meu filho? A vida deixa de fazer sentido. Sentem que não serão capazes de voltar a sentir-se em paz, equilibrados, tranquilos e serenos…

Todavia, por muito contra natura que nos pareça, este género de fenómeno sempre existiu, desde os primórdios da humanidade. E, por mais cruel que isso passa parecer, continuará a acontecer a outros pais no futuro. Isso permite-nos acreditar que é possível retomar a vida, dar-lhe um outro significado…

Quando o meu filho morreu, em Abril de 2006, a dor avassaladora e dilacerante despedaçou-me o coração. Penetrou a minha alma tão profundamente que durante muito tempo pensei que nunca recuperaria. Acreditei que o sofrimento devastador que sentia iria acompanhar-me para sempre. Contudo, com o tempo e muita ajuda, aprendi a viver com a minha perda e a reapreciar a vida, com mais amor do que dor.

Como se faz esse caminho de esperança?

O processo de luto pela morte de um filho é uma jornada solitária. Cada progenitor vivencia o luto à sua maneira, de forma individual e distinta. E cada um deles tem de atravessar o vale tenebroso do seu próprio desespero. É um caminho sofrido, mais ou menos sinuoso e acidentado, iluminado por uma luz ténue. Gradualmente, essa centelha vai se intensificando e transformando num verdadeiro raio de sol à medida que o tempo avança.

É uma caminhada turbulenta através da balbúrdia de emoções associadas ao processo de luto… Porém, precisamos de enfrentar os nossos demónios, medos e fantasmas. De reconhecer e aceitar as nossas fragilidades – recorrendo a ajuda quando ela é necessária. Sobretudo, é importante aproveitar todo o tipo de o apoio disponível, desde a ajuda de familiares e amigos ao apoio especializado. Os profissionais de luto compreendem, melhor do que ninguém, o sofrimento vivenciado. Além disso, eles ajudam a adquirir habilidades para lidar com a dor e a perda. Acima de tudo, eles proporcionam um lugar seguro onde os pais que perderam filhos podem expressar livremente as emoções, sem juízos de valor.

O luto por um filho é um processo longo e oscilante

É natural que haja oscilações ao longo do processo de luto. De facto, é preciso reaprender a viver com a nova realidade. Precisamos de cuidar de nós próprios física, mental e emocionalmente. Acima de tudo, queremos manter o nosso filho connosco enquanto completamos a jornada da nossa vida. Também precisamos de estabelecer limites. Ou seja, de ser claros sobre o que vamos tolerar e manter na nossa vida. Sobretudo, de ter consciência que o luto pela morte de um filho é uma jornada individual e geralmente longa.

Além disso, pode haver períodos de maior intensidade de dor, particularmente no início e primeiros dois anos… Ou nas datas mais significativas como os aniversários, o Natal ou o Dia de Finados. Certamente, todos os pais enlutados passam por essas provações. Mas a forma como escolhem prosseguir, é determinante para o desenrolar do processo.

Um dia o fardo fica mais leve

Com efeito, o denominador comum que, em geral, todos os pais em luto partilham, é a necessidade de encontrar uma centelha de esperança que possam manter acesa e a brilhar. O momento em que cada um de nós encontra essa centelha de esperança – a luz ao fundo do túnel – difere. Onde e como a encontramos, varia e ocorre em momentos diferentes da jornada de luto. Mas, acredito que todos nós a encontramos.

Todavia, um dia apercebemo-nos que o fardo está um pouco mais leve... Lembramo-nos do nosso(a) filho(a) e começamos a rir com as coisas que ele(a) disse ou fez… Sem nos darmos conta, já não nos sentimos tão mal com isso. Aos poucos o riso e a alegria vão voltando e ficando… Diferente do que foi outrora, é certo, mas já sem culpa. Esses momentos envolvem-nos gentilmente e, lentamente começa a renascer a esperança. A minúscula centelha começa a brilhar dentro de nós de forma quase imperceptível. Entretanto, vai ganhando intensidade até se tornar a luz que nos indica o caminho de serenidade. A pouco e pouco a vida ganha outro sentido. Por fim, encontramos significado na nossa experiência e voltamos a sentir micro momentos de felicidade.

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5 Responses

    • Ana Paula Vieira

      Lamento muito a sua perda. O que posso partilhar da minha experiência é que eles continuam vivos dentro de nós através do amor partilhado. Coragem e esperança é o que lhe posso desejar, de coração.

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