Luto e trauma são coisas distintas, mas, por vezes, estão intimamente interligados, porém essa relação não é fácil de compreender. Embora nem todo o luto envolva trauma, todo o trauma envolve luto. O luto e o trauma incluem sentimentos intensos que surgem após a perda de um ente querido (no luto) ou de um acontecimento doloroso (no trauma). Ambas as experiências podem ter um grande impacto na saúde física e mental da pessoa. Neste série de artigo vamos começar a explorar os diferentes conceitos e relações entre ambos.
O que é o luto?
O luto é uma reacção natural do ser humano que surge normalmente, na sequência da perda de um ente querido, e que envolve um conjunto de sentimentos intensos, frequentemente dolorosos.
De forma simples, o luto é a nossa reacção à perda e pode ser desencadeado por dezenas de razões que não a morte de um ente querido. Pode advir da perda de uma amizade ou relação, de saúde, de um emprego ou de uma oportunidade.
A trajectória do luto varia muito para cada pessoa. Algumas pessoas demonstram resiliência facilmente. Outras sentem uma sensação de alívio pelo facto do seu ente querido já não estar a sofrer. E há outras que ficam muito deprimidas durante um longo período. Embora seja uma experiência universal, é pessoal e varia muito.
Geralmente o processo de luto envolve diferentes estágios como choque, negação, raiva, negociação, tristeza, aceitação e por fim a construção de significados. Porém, cada pessoa vive o luto de maneira única e é importante lembrar que o luto normal tende a diminuir com o tempo.
Apesar da morte, a perda e luto serem aspectos naturais da vida, quando é súbita e inesperada, pode tornar-se arrasadora. Quando a morte chega repentinamente, como por exemplo, devido a um acidente de automóvel ou um suicídio, a sobreposição da experiência traumática à dor da perda pode ser avassaladora.
O que é o trauma?
O trauma é uma resposta emocional a um evento profundamente angustiante ou aterrador, como um acidente, uma violação, uma morte inesperada ou violenta, uma catástrofe natural. Após o acontecimento aterrador, é comum a pessoa sentir-se choque ou pavor e entrar em negação. E, embora estes sentimentos sejam normais, algumas pessoas têm dificuldade em prosseguir com as suas vidas.
O trauma não é apenas um facto que ocorreu num dado momento do passado; é sobretudo a marca que essa experiência deixa no corpo e no cérebro. Uma marca com consequências duradouras na forma como o organismo opera para conseguir sobreviver no presente. As experiências de vida arrasadoras afectam o processo básico do cérebro de gestão das nossas percepções. Ele modifica não só a maneira como pensamos e o que pensamos como a nossa própria capacidade de pensar. O trauma afecta as nossas sensações mais íntimas e a nossa relação com a realidade física – o âmago do nosso ser.
O que é luto traumático?
O luto complicado (traumático) caracteriza-se por um anseio, uma saudade e uma tristeza persistentes e intensas. Geralmente envolve pensamentos ou imagens persistentes da pessoa falecida e de um sentimento de descrença ou incapacidade de aceitar a realidade dolorosa da morte da pessoa.
A morte súbita e inesperada de alguém que amamos é uma experiência que destrói a vida, os sonhos e o futuro imaginado. A pessoa que sofre uma experiência traumática ao mesmo tempo que sofre uma perda, torna-se uma vítima do trauma para além da perda. Ou seja, passa por um luto traumático ou complicado.
Qual a relação entre luto e trauma?
Tanto o trauma como o luto provocam reacções emocionais semelhantes, mas a diferença mais significativa é o momento em que ocorre a perda. O luto normal é uma resposta a uma perda que ocorre naturalmente, como uma doença terminal, uma morte natural ou mudanças significativas na sua vida. Os eventos traumáticos são frequentemente súbitos, dramáticos e não naturais. Se a perda envolve trauma.
Devido ao trauma imbuído no luto, pode ser dificil diferenciar entre luto complicado e stress pós-traumático (SPT). O SPT está relacionado com medo e o luto tem a ver com perda. O luto traumático engloba ambos, e inclui uma sensação de impotência. A pessoa sente-se dilacerada e desamparada e pode entrar num declínio vertiginoso num turbilhão de dor.
Conclusão
No luto normal, as ondas de emoções e sentimentos de luto vêm e vão. São passíveis de gerir com o tempo e uma forte rede social de apoio. Quando o luto envolve trauma é necessário compreender a relação entre ambos. Além do forte apoio social, requer capacidades saudáveis de lidar com a situação e o apoio de um conselheiro de luto ou psicólogo especialista em luto.
A fim de melhor compredendermos a relação entre estes dois fenómenos, nos próximos artigos vamos abordar diferentes tipos de trauma e de luto.
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