Quando a nossa mente e o nosso coração não estão em harmonia e trabalham independentes um do outro, pode haver muita dor e caos interior. Quando queremos uma coisa, mas a nossa razão não está alinhada com os desejos do nosso coração, há fragmentação e desconexão. E, como não sabemos como aliviar o sofrimento emocional que surge, batemo-nos ainda mais.
Achamos que devíamos saber melhor
Recentemente enquanto falava com uma cliente com quem tenho vindo a trabalhar há mais de um ano, apercebi-me de um padrão muito comum, com o qual também eu me debati (e por vezes ainda debato). Ela estava muito frustrada consigo mesma porque já devia “saber melhor”, mas continuava a resvalar para os padrões dolorosos antigos. Ela dizia que pelo muito que já leu e estudou muito sobre inteligência emocional e espiritualidade, desde muito antes de começar a trabalhar comigo, era inaceitável que continuasse a caír nos mesmos erros.
Esta conversa lembrou-me de mim mesma há apenas alguns anos. Eu também já tinha feito vários cursos, lido muitos livros sobre inteligência emocional e desenvolvimento pessoal… Já me interessava pela espiritualidade, tinha ouvido muitos gurus e palestrantes inspiradores… Mas, mesmo assim, dava por mim a voltar sempre aos mesmos padrões indesejados. É como um vício.
Se costuma se defrontar com certos assuntos recorrentes na sua vida provavelmente já sabe do que estou a falar.
Quando sabe como fazer melhor, mas não o faz.
Somos tão parecidos… Ao ouvi-la, lembrei-me que há pouco menos de um ano, durante o confinamento, apesar das inúmeras estratégias de adaptação que conheço e da enorme caixa de ferramentas de regulação emocional que tenho, dei por mim capaz de trepar pelas paredes porque me faltava o contacto com a natureza. Muitas vezes até sabemos o que é necessário fazer, mas fazemos outra coisa, o que nos leva à frustração. Depois, criticamo-nos por isso e não conseguimos aliviar o sofrimento emocional que criamos. Ou seja, até sabemos como fazer melhor, mas simplesmente não o fazemos.
Mas, o que tenho constatado, pela minha própria experiência e pelas dezenas de mulheres que tenho apoiado, é que, por muito que saibamos, quando queremos controlar tudo o que se passa fora de nós, em última análise, boicotamo-nos. A necessidade de controlo vem do medo da mudança, do desejo que as coisas permaneçam inalteradas ou decorram como esperamos. Resistimos à mudança e, quando ela ocorre, queremos que tudo volte a ser como era. Porém, é a impermanência que é usual, não a permanência, conforme abordei no podcast.
Se ainda não o ouviu, aproveite para o fazer agora, são apenas 10 minutos de informação inspiradora.
Quando o ego se sente ameaçado procura assumir o controlo
Agimos, de forma inconsciente, para satisfazer as necessidades do nosso ego. Contudo, essas distracções podem dominar-nos e levar-nos a deturpar as mensagens que emergem do nosso coração. O nosso ego é criado por instintos de sobrevivência, condicionamentos, crenças e interpretações racionais. Quando acreditamos que não é seguro sermos exactamente quem somos, o ego sente-se ameaçado e pode assumir o controlo. Com isto não quero dizer que o ego é uma coisa má. É apenas outra forma de explicar a diferença entre o ego e o eu autêntico. O ego é realmente útil para nós quando é dirigido pela parte mais sábia que temos, o coração.
Mas quando a nossa mente e o nosso coração trabalham independentemente, uma do outro, pode haver muita confusão. Sobretudo quando não sabemos como travar as investidas do ego. Queremos uma coisa, todavia fazemos outra. Sabemos o que fazer, mas as nossas crenças não estão alinhadas com o que o nosso coração deseja. Em última análise, alimentamos o medo.
Enquanto rejeitamos a impermanência geramos sofrimento
Esta é uma realidade triste, mas verdadeira. E enquanto não aceitarmos que nada é permanente, vamos sofrer. Eu também resisti a esta máxima da filosofia budista. Depois da morte do meu filho eu não queria sentir tamanha dor. Fechei o coração o melhor que pude porque não queria sentir tanto sofrimento. Mas o que descobri, a duras penas, foi que não há como controlar ou abafar os sentimentos. Na realidade, quando fechamos o nosso coração, o que estamos a tentar evitar é a experiência do inferno em que já nos encontramos. Reprimir o que sentimos é uma tentativa desesperada de rejeitar algo que já aconteceu. Ao não reconhecermos que, de facto, as nossas mentes não controlam o que se passa fora de nós, acabamos por aumentar o sofrimento emocional. Com efeito, a nossa mente não tem todas as respostas, o nosso coração é que tem.
Sei que não é fácil rendermo-nos e tão pouco confiar que há algo maior do que nós. Eu também demorei a aceitar a realidade. Neste esforço para evitar a dor, estava de facto a intensificá-la. Depois de deixar de resistir percebi que ao fechar o coração estava a fechar-me ao meu verdadeiro poder autêntico, o amor.
Ao abrirmos o nosso coração, libertamo-nos
Quando abrimos o nosso coração em vez de o fecharmos para nos protegermos, libertamo-nos. Ou seja, quando finalmente me rendi ao meu coração deixei de alimentar o medo. Ao me libertar da necessidade de controlo percebi que a minha vida tinha tomado um rumo fantástico. O meu coração tinha expandido e eu já não queria voltar atrás.
À medida que comecei a me render, a reconhecer a minha dor e a permitir-me senti-la, mais fácil se tornou deixá-la fluir. Ao deixar a dor fluir comecei a ganhar clareza e confiar em algo maior do que eu. A pouco e pouco, a dor foi aliviando e comecei a confiar em algo maior do que eu. A querer render-me ainda mais a algo mais sábio do que eu, que está dentro de mim. Ao me render e confiar, naturalmente, permiti-me aliviar e libertar o sofrimento emocional. Já não sofro? Claro que sim, mas já não fico presa no ciclo vicioso. E é esse processo que ensino.
Avançar para o amor e aliviar o sofrimento emocional
Esta não é uma travessia fácil, é uma escolha de confiança constante no poder de cura do amor e de compreensão da raiz do medo. Ao me libertar dos meus jogos mentais e da necessidade de ter todas as respostas, de saber tudo sobre tudo, descobri a serenidade. Eu desapeguei-me da necessidade de ter tudo planeado e optei por aceitar o que é. Rendi-me ao facto de que há um plano divino para a minha vida (e as vidas de todos nós) e, mesmo que não corra tudo conforme planeado, acredito que esse plano irá acontecer.
Lembro-me de quando comecei a fazer trabalho de libertação emocional… nem conseguia dizer que me amava e me aceitava. Certa manhã, fitei-me ao espelho e olhei-me realmente nos olhos como se fosse a primeira vez que me via. Foi primeira vez que eu ousei dizer-me que eu era merecedora de viver, de amar e receber amor. Vi-me finalmente porque fui capaz de ser verdadeira, de me aceitar e ter a coragem para me amar. Quando escolhemos amar-nos a nós próprios independentemente do que aconteça, despertamos para algo maior do que imaginamos. Este despertar leva-nos a nos comprometermos com o nosso verdadeiro eu e a honrar a vida que recebemos. Estamos a assumir o compromisso de ouvir de uma forma que talvez nunca tínhamos escutado antes.
Quanto menos resistimos mais facilidade encontramos
A pouco e pouco este espaço desconhecido tornou-se confortável. Esforço-me por deixar de me preocupar e permanecer aberta ao que a vida me traga. E, o melhor de tudo é que todos os dias vejo como a minha vida se move com serenidade, mesmo quando ela não acontece como eu esperava.
De facto, quanto mais pratico esta arte de deixar ir, melhor consigo entrar mais plenamente no meu próprio fluxo. Sim, comecei a meditar e a rezar mais regularmente, a estabelecer as minhas intenções e depois relaxar. Passei a falar literalmente com Deus em voz alta e a empenhar-me para que todos os dias seja a melhor pessoa que posso ser. Em resultado disso tenho notado que parece haver uma corrente que me carrega e tudo o que realmente tenho de fazer é permitir-lhe que me leve. A vida transformou-se nesta bela dança com esta energia, emanada de algo maior do que eu, à qual só preciso de me render.
O melhor da rendição foi que a minha vida se tornou este fluxo perfeito de confiança em algo maior do que eu, mais sábio, mas ligado a mim.
A vida é preciosa e mais leve quando escolhemos o amor
Agora, caminho pela vida confiante, mais como observadora das minhas emoções e experiências, do que reactiva. E, quando algo se torna pesado, sento-me com os meus sentimentos e deixo-os fluir em vez de deixar que me controlem. Claro que continuo a ter desafios, mas confio na energia do amor e na minha capacidade de aliviar o sofrimento emocional. A vida é preciosa e, quando nos alinhamos com o coração e vibramos no amor, tudo se torna mais leve.
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