Lidar com a dor da perda de alguém, ou de algo que amamos, pode ser avassalador. Podemos sentir diferentes emoções difíceis e inesperadas como choque, raiva, descrença, culpa ou tristeza profunda. A dor da perda também pode interferir na saúde física. Entre as são reacções normais a perdas significativas figuram as perturbações do sono, perda de apetite, ou dificuldades de raciocínio.
A morte de alguém que amamos profundamente é um dos desafios mais dolorosos que temos de enfrentar na vida. Embora não haja maneiras certas ou erradas de sofrer, há maneiras saudáveis de lidar com a dor. Com o tempo, a tristeza pode atenuar e acabamos por a aceitar a perda, encontrar um novo sentido para a vida e seguir em frente.
O luto é uma resposta natural à perda. É a dor emocional que sentimos quando algo ou alguém que amamos desaparece. Porém, quanto mais significativa a perda, mais intensa será a dor.
O luto é uma vivência pessoal
O luto é uma experiência profundamente individual. O modo como o processo de luto é elaborado depende de diversos factores, tais como a personalidade, experiência de vida, resiliência, forma de enfrentamento, fé e de quão significativa seja a perda. Inevitavelmente, quanto mais significativa é a perda, mais lento e moroso será o processo de luto.
A cura acontece gradualmente, e não pode ser forçada ou apressada. Não existe cronograma para o luto, nem estratégias de superação certas ou erradas. Algumas pessoas começam a sentir-se melhor após algumas semanas ou meses. Contudo, para outras, o processo de luto prolonga-se durante anos. Qualquer que seja a sua experiência de luto, é importante ser paciente consigo mesmo e permitir que o processo se desenvolva naturalmente. É fácil cair na rotina do dia a dia, fazer as mesmas coisas de forma quase automática, entregando-nos à solidão e deixarmo-nos agarrar à tristeza.
Mitos e crenças
Existem crenças relacionadas com o luto e a dor da perda que importa desmistificar:
Mito: A dor desaparece mais depressa se a ignorarmos.
Facto: Tentar ignorar a dor ou impedi-la de emergir só piorará a situação a longo prazo. A dor da perda deve ser encarada como uma ferida que, se não for tratada tende a agravar. Para uma verdadeira cura, é necessário enfrentar a dor e lidar activamente com ela.
Mito: É importante “ser forte” face à perda.
Facto: Sentir-se triste, assustado ou sozinho é uma reacção normal à perda. Chorar não significa que se é fraco. Não precisamos “proteger” a família ou os amigos colocando uma máscara de corajosos. Portanto, mostrar os verdadeiros sentimentos pode ajudá-los eles e a nós próprios.
Mito: Se não chora, significa que não sofre muito com a perda.
Facto: Chorar é uma resposta normal à tristeza, mas não é a única. Aqueles que não choram podem sentir a dor tão ou mais profundamente quanto os outros. Eles podem simplesmente ter outras maneiras de a processar.
Mito: O luto deve durar cerca de um ano.
Facto: Não há um prazo específico para o luto. É diferente para cada pessoa e depende do significado da perda.
Mito: Seguir em frente com a sua vida significa esquecer a sua perda.
Facto: Seguir em frente significa que aceitou a sua perda – mas é muito diferente de esquecer. Podemos seguir em frente com a vida e manter a memória de alguém ou algo que perdemos como parte integrante de nós. De facto, à medida que nos movemos pela vida, essas memórias podem se tornar cada vez mais essenciais para definir quem somos.
Como lidar com o processo de luto
Enquanto lamentar uma perda é uma parte inevitável da vida, existem também maneiras de ajudar a lidar com a dor. É essencial aceitá-la e, eventualmente, encontrar uma forma de recolher os cacos, voltar a uni-los e seguir em frente com a nossa vida.
- Reconheça a sua dor.
- Aceite que o luto pode desencadear muitas emoções diferentes e inesperadas.
- Entenda que o seu processo de luto será exclusivo para si.
- Procure apoio individualizado de pessoas que se preocupam consigo.
- Apoie-se emocionalmente, cuidando de si mesmo, fisicamente.
- Reconheça a diferença entre tristeza e depressão.
As etapas do luto
Em 1969, a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross introduziu o que ficou conhecido como os “cinco estágios do luto”. Esses estágios ou fases do luto basearam-se nos seus estudos sobre os sentimentos de pacientes com doenças terminais, mas os mesmos foram aplicados a outras perdas ou mudanças negativas na vida, como a morte de um ente querido, ou uma separação.
Os cinco estágios do luto:
- Negação: “Isso não pode estar a acontecer comigo”.
- Raiva: “Porquê, comigo? Porquê a mim? Quem é o culpado?”
- Negociação: “Isto não está a acontecer. Isto é um pesadelo do qual vou acordar e estará tudo bem”.
- Depressão: “Estou demasiado triste para fazer o que quer que seja.”
- Aceitação: “Estou em paz com o que aconteceu.”
Se está a experienciar alguma destas emoções após uma perda, em primeiro lugar, é útil saber que a sua reacção é natural. Segundo, com o tempo, sentir-se-á melhor. No entanto, nem todas pessoas que sofrem perdas passam por todas estas etapas. Com efeito, algumas pessoas superam a sua perda sem passar por vários destes estágios. Por isso, se passar por estas fases de pesar, provavelmente não as experienciará de forma organizada e sequencial, ou poderá alternar entre uma fase e outra. Embora estes estágios sejam respostas que muitas pessoas têm à perda, não há respostas padrão porque as perdas não são padronizadas. O luto é tão individual quanto nós próprios.
A dor do luto muitas vezes pode fazer com que nos queiramos afastar dos outros e fechar na nossa própria concha. Assim, o apoio de outras pessoas é vital para superar a perda. Mesmo que não nos sintamos à vontade para falar sobre os nossos sentimentos em circunstâncias normais, é importante expressá-los quando estamos em sofrimento. Todavia, embora partilhar a dor da perda possa tornar o fardo mais fácil de ser transportado, isso não significa que temos forçosamente de falar sobre a perda sempre que interagimos com amigos e familiares. Portanto, o conforto pode vir simplesmente do carinho recebido de outras pessoas que se importam connosco.
Recomendações
Se está a vivenciar um luto e sente dificuldade em seguir em frente, pode ser útil fazer uso de algumas destas sugestões:
- Recordar – As memórias da vida de um ente querido são presentes preciosos para guardar no coração. Por isso, lembrar momentos felizes é uma maneira bonita de homenagear a pessoa que se perdeu e permitir que a luz entre num período doloroso da nossa vida.
- Obter ajuda – As pessoas que já vivenciaram perdas idênticas podem ser uma grande fonte de inspiração, esperança e encorajamento. Um grupo de apoio ou de partilha, ou um conselheiro de luto fornecem um lugar seguro para processar perdas traumáticas.
- Encontrar a esperança – Independentemente das crenças religiosas de cada um, a tristeza profunda atrai-nos muitas vezes para a procura de ajuda espiritual. Assim, num período mais sombrio da perda, em que podemos estar imersos na tristeza, admitir a nossa incapacidade de lidar com a perda, pedir ajuda, e permitir que alguém nos apoie, pode ser um ponto de viragem significativo para a cura.
O luto complicado
A tristeza de perder alguém que amamos nunca desaparece completamente, mas não deve permanecer no centro do palco da nossa vida. Se a dor da perda é tão constante e severa que o impede de retomar a sua vida, pode estar a sofrer de algo conhecido como luto complicado. Pode ter dificuldade em aceitar a morte muito tempo depois de ela ter ocorrido. Ou pode ter ficado tão perturbado com a morte da pessoa que isso interfere com as suas rotinas diárias e prejudica os seus outros relacionamentos.
Sintomas do luto complicado:
- Saudade e desejo intenso do ente querido falecido
- Pensamentos intrusivos ou imagens do ente querido
- Negação da morte ou sentimento de descrença
- Imaginar que o ente querido está vivo
- Procurar o ente querido falecido em lugares familiares
- Evitar coisas que lembram o ente querido
- Raiva extrema ou amargura pela perda
- Sentimento de vazio ou que a vida perdeu o sentido
Se a morte do seu ente querido foi súbita, violenta, ou extremamente perturbadora, o luto complicado pode se manifestar como trauma psicológico. Assim, se a sua perda lhe causa sentimentoos de desesperança e impotêcia é recomendável que procure ajuda especializada para apoiar o seu processo de luto. Se se debate com emoções intensas, ansiedade e lembranças perturbadoras que não desaparecem, é recomendável que procure a ajuda de um terapeuta ou conselheiro de luto. Existem muitas formas de apoio disponíveis, portanto não precisa de passar pela dor sozinho. Além disso, uma orientação correcta pode promover mudanças de cura significativas e ajudar a seguir em frente com a vida.
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